O PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO CONTRA A IDADE

25/07/2022 16:23

O PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO CONTRA A IDADE 

 

Por Suely Pavan Zanella (*)

Psicóloga CRP 06/10220

 

O falecido ator Raul Cortez disse que certa vez ao entrar numa danceteria, pois queria apenas dançar, foi fulminado pelos olhares de reprovação dos jovens frequentadores do local. Ao constatar o absurdo da cena, disse indignado: Aqui não há nenhuma placa dizendo que o local é proibido para maiores de 60 anos!

Etarismo, ageísmo ou idatismo é uma forma de preconceito relacionado a qualquer idade, mas óbvio que ao menos no Brasil, o país tropical associado à beleza, corpos sarados e juventude, está associado às pessoas mais velhas.

Mesmo que o envelhecimento seja um processo natural, todos que viverem ficarão velhos um dia, ainda há muito preconceito contra aqueles que passaram de uma certa idade. E esta “certa idade” depende muito do contexto. Por exemplo, para a Lei você é idoso e tem certos benefícios quando tem mais de 60 anos. E se depara com uma plaquinha de um velhinho de bengala!

E este preconceito e discriminação absurda contra a idade está em todos os lugares, mesmo quando você nem sequer percebe o seu preconceito. Quer um exemplo?

Muita gente posta vídeos nas redes sociais de idosos dançando, mas nunca vi ninguém postar um vídeo dizendo: Olha o jovem dançando!

Não entendo a razão de alguém achar fora do comum uma pessoa mais velha dançar a ponto de ter que postar um vídeo sobre isso. Uma aluna da pós em psicodrama na qual eu era supervisora fez um trabalho com idosos em um asilo, e a principal reconexão com a vida foi a dança. E não pense você que a dança era aquela do baile da saudade. Outro ledo engano e preconceito.

Quer outro exemplo?

Preste atenção às propagandas da TV e repare que toda a vez que uma avó ou avô é retratado, sempre aparece alguém que está mais para bisavó do que avó. Aliás, as propagandas são feitas por pessoas jovens e fora do contexto da realidade. Hoje avós e avôs têm a aparência mais jovem do que na época em que eu era criança, por exemplo.

 

O mercado de trabalho é um exemplo claro do preconceito e discriminação contra pessoas mais velhas. Neste contexto pessoas com mais de 40 anos já são consideradas velhas e arcaicas.

Embora seja proibida por Lei, é comum ver-se anúncios de vagas explicitando limites de idade e até de sexo.

Com a juniorização das áreas de Recursos Humanos, ou seja lá o nome modernoso que se dê, adultos com mais de 40 anos são atendidos por meninas de 20 e poucos anos recém saídas da faculdade que raramente têm vivência pessoal e muito menos profissional para recrutar e selecionar gente experiente e mais velha.  Muitas têm medo inclusive de questionar perfis estapafúrdios feitos por gestores que mais parecem saídos da Gestapo do que gestores de pessoas.   

Aliás, algumas áreas empresariais ao invés de buscarem estagiários para campanhas de marketing; contratação de pessoas (RH) e outras em que o atributo de responsabilidade e credibilidade sejam essenciais deveriam pagar mais e contratar pessoas mais experientes.

Uma certa rede de compras por aplicativos de restaurantes não se cansa de mandar mensagens usando termos como “precinho”, “sextou”....e outros que mais parecem feitos por uma criança de 12 anos. Como se todo o público que faz compras por aplicativos seja jovenzinho.

Sem contar o número de psicólogos jovens que para captar clientes fazem dancinhas no TikTok e no Instagram.  Uma imbecilidade sem tamanho e que denota total imaturidade profissional.

Enfim, raramente um profissional mais velho será contratado em grandes empresas. Que preferem economizar dinheiro contratando gente jovem e inexperiente.

Portanto, seguir trabalhando com mais de 40/50/60/70 anos é muito complicado. E não adianta dourar a pílula.

Salvo profissões independentes como a dos profissionais liberais, consultores, comerciantes, e outras semelhantes garantem o ganha pão de que tem mais idade.

O mais interessante é que a pessoa mais jovem e cabeça aberta que trabalhei na vida tinha 80 anos. Ele era um consultor do grupo Abril em que trabalhei. Era atualizado (condição fundamental), não era amargo, e muito jovial. Além de ter uma experiência fabulosa em gestão e uma sabedoria que só se obtém com a idade e com a jovialidade. Gente, mais velha que acha que sabe tudo também é insuportável. E que ficam insistindo “no meu tempo era melhor” já morreram e não servem mesmo para o mercado de trabalho. E os amargos que me perdoem, doçura e desejo de aprender sempre são fundamentais.   

E para terminar segue o trecho de um livro que amo, ele se chama Vivendo, Amando e Aprendendo, do falecido pedagogo italiano Léo Buscaglia, que dizia que idades são apenas rótulos:

“… E depois essas ideias malucas e autodestruidoras sobre a idade! Sabe, já comentei que era triste estarmos numa sociedade que realmente põe a idade num lugar tão estranho. Como, de repente, quando você chega a uma certa idade mágica, não presta mais para nada….Você quer usar um vestido de lantejoulas vermelhas aos 87 anos e tingir os cabelos de roxo? E andar de patins? Pois faça isso!

Sabe, detesto termos como “ancião”. É melhor ser chamado homem, melhor ser chamada mulher, pois é isso que são.

Nós nos esquecemos de que gente como  Galileu, escreveu seu último livro aos 74 anos…Michelangelo tinha 71 anos quando foi nomeado supervisor da Capela Sistina…Duke Ellington foi rejeitado pela Comissão do prêmio Pulitzer aos 66 anos, e disse: “Bem, Deus não quis que eu ficasse famoso demais ainda muito jovem.”…Susan B. Anthony, foi presidente das feministas até os 80 anos, e andava pela rua batendo no tambor. Foi presa aos 52 anos de idade, por votar. Foi à cabine e disse: “Quero votar. O que é isso, mulher não vota? ”Teve uma nova experiência: a cadeia!… George Bernard Shaw fraturou a perna aos 96 anos. E sabem como foi: Caiu da árvore que estava podando…””

 

Sim, idades são apenas rótulos.

 

(*) Texto sem revisão. Perdoe os erros de português e concordância.