O Filho Preterido

05/02/2014 15:24
O FILHO PRETERIDO
" A dura dor da rejeição"

Suely Pavan Zanella

 
 
Desde pequeno, ao menos na maioria dos casos, ele é jogado para escanteio. Um dos pares, pai ou mãe, prefere outro filho ao invés dele. Em alguns casos, como o de Felix, personagem da novela Amor à Vida, ele é preterido pelo pai, e compensado pela mãe em forma de protecionismo exacerbado. Mas como a vida não é um balanço contábil, em que o que não se tem de um lado pode ser compensado de outro, a sensação de falta permanece.
Conheço muita gente que teve o desprezo de um dos pais, e isto afetou a sua autoestima. Para compensar esta falta de amor, estudou demais, trabalhou bem e por este motivo foi reconhecido quase que pelo mundo, mas que não consegue de forma alguma perceber sua capacidade. Quer porque quer o amor de um dos pais que não obteve. A rejeição de um dos parentes é dor que se carrega para a vida toda. Nenhuma criança ou adulto é capaz de entender o motivo de tanta preterição!
Felix aos olhos do pai era um menino chorão e que na vida adulta percebeu-se homossexual. Cesar, por outro lado, era machão e sofria de uma cegueira crônica chamada orgulho. Como iria aceitar a orientação sexual de seu filho?
Mas nem todos os filhos preteridos o são por serem homossexuais. As rejeições aos filhos não tem um causa lógica e raramente um pai ou uma mãe assume a sua preferência. A frase preferida de muitos pais é: - Os amo da mesma forma! Porém, suas atitudes, até cruéis revelam outra verdade.
Os danos de ser preterido por um dos pais é enorme em termos psicológicos, pois há sempre uma sensação de falta.
Freud dizia que o filho preferido, por ser mais amado, dá-se melhor na vida. Diferentemente do preterido, aquele que vive no pretérito, quem tem que provar e provar e provar o seu valor para um dos pais. Posso dizer que o filho preferido encontrará sempre as portas abertas, pois tem autoconfiança para tal. O preterido não! E não é à toa que ele se esforça tanto. Pode seguir tal como Felix o caminho do mal, mas a maioria dos preteridos não faz isto.
A história da preterição, também tende a se repetir na escolha de um conjugue, por exemplo. Como a experiência do amor e do respeito na infância ficou deteriorada a tendência é que se busquem pares do mesmo naipe, ou seja, aqueles que apenas parecem nos amar, mas no fundo nos desqualificam, são ofensivos e torcem contra nós. Aqueles que exigem de nós o sangue e depois a alma, e sempre acham pouco o que damos.
Como reverter este quadro?
Não é fácil! Exige muita psicoterapia para que possamos entender o nosso próprio valor e principalmente não repetir este modelo nocivo aceitando qualquer tipo de amigo e namorado (a).
A mudança se dá através de uma nova perspectiva de olhar para si mesmo com um novo espelho. É óbvio que familiares irão estranhar esta mudança e a todo o tempo tentaram colocar o filho (a) em seu devido lugar: No pretérito.  Poderão chamá-lo de chato, arrogante, ou qualquer outro adjetivo limitador. O filho preterido normalmente é subserviente já que tenta se encaixar a uma expectativa que ele mesmo nem sabe qual é para agradar a um dos pais.
Outro caminho é o que foi mostrado na novela, porém é mais raro, e ele se chama perdão. Quando o filho perdoa a rejeição paterna ou materna, e o pai ou mãe reconhece que ama este filho.
A cena final de Amor à Vida foi de uma beleza impar, uma das mais belas que vi na teledramaturgia brasileira. Mostrou que quando um pai ou mãe reconhece sua falha perante um filho e desce desta forma de seu pedestal de orgulho ou preferência pessoal, a rendição se torna possível. E o encontro se estabelece.
Infelizmente, na vida real, isto nem sempre acontece. Lembro-me de uma paciente adulta e muito bem sucedida graças a seus esforços que um dia sentou-se na escada de sua casa e chorou copiosamente por todo o amor que não recebeu de sua mãe. Amor este que ela sabia que jamais receberia.
É muito fácil ser o filho preferido, e muito difícil ser o preterido, para o último é necessária uma dose extra de esforço e vontade de seguir em frente.  
Espero que este texto possa ajudar os milhares de filhos preteridos, que nem sempre têm clareza da dor que carregam, das péssimas escolhas que fazem e dos aparentes “azares” que encontram no decorrer da vida.
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