Olhos Acostumados – O Ato de Matar por Matar
28/05/2015 14:38Diferentes estudos internacionais da área de psicologia criminal mostram que as pessoas matam essencialmente por três motivos: dinheiro, amor ou sexo e vingança. Outros tipos de crimes são cometidos por psicopatas, serial killers, e alguns tipos de doentes mentais. Os últimos basicamente são cometidos sem motivos aparentes - mata-se por matar ou, no caso da doença mental, a mando de um delírio ou alucinação.
Os americanos, por exemplo, são especialistas em catalogar os tipos de crime, o que facilita a tarefa não só no momento da pena, como também e principalmente no seu entendimento e prevenção.
O que tem me chamado a atenção nos últimos tempos é o aumento considerável dos crimes sem sentido, ou seja, o ato de matar por matar. Rouba-se um celular, um carro, ou qualquer bem que represente dinheiro, e após obter o objeto de desejo ou necessidade mata-se a vítima sem motivo algum. A recomendação da polícia de forma geral é: Não reaja! Mas se você prestar atenção verá em vídeos disponíveis na Internet que as vítimas normalmente se assustam, pois tem medo. E medo é uma reação natural do ser humano, bandidos sempre souberem disso, pois até tempos recentes também o sentiam. Enquanto que o ato de reagir é diferente, pois pressupõe uma ação de defesa do objeto que está sendo levado. Embora esta reação também possa ser medo. Então, o slogan, “Não reaja”, por si só é no mínimo estranho, já que há duas reações normais ao medo: Fugir ou lutar!
Além dos aumentos dos crimes sem sentido, os bandidos de hoje em alguns casos parecem não sentir medo. O que é bastante estranho, pois quem se envolve com a criminalidade deve ter dois medos básicos: O de morrer e o de ser preso!
Portanto, estamos presenciando ações que em nada correspondem ao humano, digamos, “normal”. Pois mata-se por matar e o medo, que é a reação mais primária do ser humano, foi banido.
Sabe-se também que muitos criminosos, como uma estratégia de não sentir medo antes de assaltos e crimes, usam cocaína. Mas nem todos os fazem.
Como explicar então o ato de matar por matar?
Como psicóloga isso me preocupa e deveria, a meu ver, estar fazendo parte de discussões e mais discussões nos meios acadêmicos. Mas nada li ou vi a respeito, o que é mais estranho ainda. Continuamos a tratar a criminalidade como algo corriqueiro e que afeta apenas os grandes centros. Será?
A coisa aqui no Brasil é tão esquisita que não há um mestrado stricto sensu sequer em Psicologia Criminal, que é bem diferente da Psicologia Jurídica. Na Criminal se estuda o comportamento criminoso e se assessora através de consultorias criminais o trabalho investigativo. Aqui, ao contrário de outros países que tem esse tipo de mestrado, qualquer um (sim, qualquer um) se arvora em fazer perfis ou em explicar comportamentos típicos do crime à brasileira. Só psicólogos ou psiquiatras podem fazer isso!
Este fato por si só atrapalha, e muito, o entendimento para a prevenção dos crimes sem motivo aparente. Eles figuram por um tempo na mídia e depois perdem o sentido, até que outro aconteça. Agora, por exemplo, se fala da morte do médico na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, que foi brutalmente assassinado por um menor de idade. Sua bicicleta e celular foram levados, e mesmo assim sua vida também o foi. O que a mídia esqueceu-se de comentar é que crimes assim são comuns por lá, outras pessoas já haviam sido assaltadas na região e algumas tiveram seus corpos lesionados. A diferença é que só o médico veio a falecer. Sabe-se também que rotineiramente há apenas um carro de polícia a fazer a prevenção de crimes por lá.
E aí chegamos ao primeiro ponto importante desta história toda da criminalidade sem motivo:
PONTO 01: A PREVENÇÃO E A CONTENÇÃO IMEDIATA
Um dado importante é saber que, no Brasil, apenas 3% dos homicídios são solucionados pela polícia. Então, mesmo que se reduza a maioridade penal para seis meses a não solução correta de crimes continuará a ocorrer. Parece até que crimes são selecionados a dedo para terem solução imediata. Este é o caso do médico assassinado e de vários outros casos em que governadores intervêm, como foi também o caso do assassinato do executivo da Friboi Humberto de Campos Magalhães em 2008, em que o então Governador José Serra pediu prioridade nas investigações. Particularmente acredito que a Justiça e a solução de crimes devam ser para todos, independentemente da posição social ou profissão. Não são raros os casos, por exemplo, de pais e mães pobres que tiveram os filhos injustamente assassinados pela polícia e que partiram para investigações solo.
Em todos os países do mundo, é sabido que políticos interessados em votos ou em sua manutenção no poder pedem prioridade na resolução de crimes de pessoas importantes. O problema por aqui não é esse, mas sim que os demais casos não são investigados, e tal como o morto apenas falecem. Só isso daria uma boa tese de doutorado!
Se a investigação não é feita, como prevenir qualquer tipo de crime? Impossível, não é mesmo?
O caráter investigativo feito rapidamente por si só geraria o medo em bandidos. Como eles têm certeza de que não serão jamais investigados, julgados e presos, é claro que não tem medo algum de cometer todo e qualquer tipo de crime.
E mesmo quando são presos pela polícia ainda contam com as benesses de um sistema Judicial cheio de brechas para habeas corpus, acertos particulares com juízes, etc. Conheço um caso em que um criminoso foi solto mesmo tendo dois Habeas Corpus negados por desembargadores. Portanto, as concessões são muitas.
Dizem que o principio da civilidade são as leis e seus cumprimentos. As leis no Brasil com suas diferentes interpretações são até cumpridas, mas em nada favorecem a diminuição da criminalidade. Elas não assustam aqueles que cometem crimes e que têm a certeza de que mais cedo ou mais tarde ou serão soltos ou jamais serão presos pela falta da investigação correta.
Também o problema não são apenas as construções de novas cadeias, mas sim o julgamento adequado daqueles que lá estão (há muitos inocentes presos), e principalmente a revisão no sistema prisional. Cadeias, a meu ver, deveriam servir como forma de reintegração à sociedade, feitas através de um processo educacional rigoroso.
E a revisão da tipologia de crimes e suas penas também deveria ser revista. Em minha opinião se alguém matar alguém em função de motivo torpe deveria receber como pena a prisão perpétua sem direito a nenhuma tipo de concessão. Esta seria a única maneira de se manter a civilidade, já que os códigos morais, como as leis, servem para que indivíduos pensem duas vezes antes de cometer qualquer crime. É daí que vem o medo a que me referi antes. Também deveriam ser revistos os critérios que baniram o teste de Hare (que detecta a psicopatia) para prisioneiros. É sabido mundialmente que, nos países em que o teste é aplicado, a reincidência criminal baixou em cerca de 70%. Lembrando que quem está habilitado a aplicar este teste são somente psicólogos. Robert Hare, pioneiro no estudo de psicopatas, diz que a psicopatia pode ser controlada em alguns casos, mas que de forma geral ela é, até o presente momento, incurável.
A nossa psicologia romântica baniu do Brasil o teste de Hare, que é raramente aplicado. Há muitos estudos na Internet sobre o tema, e não irei colocá-los aqui. A verdade é que, apesar da comprovação mundial da efetividade do mesmo aqui no Brasil, o teste foi tido como discriminatório em uma dissertação de mestrado de uma psicóloga de uma universidade federal do Rio de Janeiro.
Porém, tudo começa com a prevenção. E aí há uma desconexão policial absurda. Vou dar um exemplo. Se você mora em São Paulo e liga para a Polícia numa sexta à noite ou sábado em função de um bar que toca música alta após o horário permitido ficará cerca de 20 minutos pendurado ao telefone sem que ninguém o atenda. Uma semana depois de sua primeira ligação descobrirá que uma pessoa se acidentou gravemente perto deste bar em função de estar bebendo e dirigindo, sem que ninguém a barrasse. Em São Paulo são raros os locais em que se veem os policiamentos da Lei Seca. E quando há, alguns são rapidamente denunciados no Twitter por gente que se diz “de bem”. Duas semanas depois da sua tentativa de denúncia para o 190 você descobre que seu bairro está sendo vítima de assaltos frequentes, e aí pode haver duas posições: a policia some de seu bairro; ou ela começa a fazer um patrulhamento ostensivo. Isso vai depender do bairro em que você more.
Mas tudo isso poderia ser evitado se, à primeira chamada em relação ao barulho, a Polícia investigasse o local. Isso se chama prevenção ou proatividade. E é muito diferente de deixar que crimes aconteçam e muitas vezes se tornem sem controle algum. A ideia é que se corte o mal pela raiz.
Se você assiste ao programa Polícia 24 Horas verá como são tratados no dia a dia os casos de violência contra a mulher, apesar das Leis Maria da Penha e do Feminicídio. Casos de homicídio contra mulheres poderiam ser evitados já no primeiro chamado, mas não. Ainda se trata o homem violento como uma espécie de vítima, onde o casal deve, a conselho do próprio policial, dialogar. O mesmo ocorre para os Boletins de Ocorrência que, dependendo daquilo que é roubado ou furtado, pouca importância se dá, favorecendo a cada dia a criminalidade.
Se seguirmos a Teoria das Janelas Quebradas (*), veremos que por menor que seja o crime ele deve ser evitado com o objetivo único de se cortar o mal pela raiz, desencorajando-o.
O que acontece? Faltam efetivos nas policias brasileiras, eles estão atrás apenas de pequenos traficantes de drogas nas comunidades? Será isso uma forma eficaz de combater o crime?
Quando leio nas Redes Sociais o discurso genérico do tipo “O Brasil é o país da impunidade”, penso que raramente as pessoas de uma forma geral, e por mais brilhantes que pareçam, analisam os motivos reais desta impunidade. Falar apenas que leis devem ser mudadas é pouco. O que é preciso, só para começar a conversa, é que elas sejam cumpridas por todos e sirvam para todos.
Óbvio que ações como reduzir a maioridade penal não irão resolver em absolutamente nada o problema da criminalidade. Se você por si só não detectou isso, peço, por favor, que releia esse PONTO 01. Seria o mesmo que tentar curar um câncer que se espalha pelo corpo usando uma bicicleta para exercita-lo!
Veja que este primeiro PONTO se refere à responsabilidade de cada Estado e do Congresso quanto às mudanças de Leis com supervisão adequada para o seu cumprimento tanto por parte da polícia quanto de Juízes.
Não lembro agora o nome do Estado em que a Lei Maria da Penha, por exemplo, é rapidamente cumprida. Lá uma juíza acompanha os casos de forma acelerada. Conversa e dá “bronca” no agressor, além de acompanhar caso a caso. Segundo ela estes tipos de casos devem ser resolvidos imediatamente. Isso se chama prevenção. Ao passo que deixar para lá, empurrar com a barriga, e dizer sempre foi assim, é fazer com que se perpetuem estes tipos de crime.
PONTO 02: A CONIVÊNCIA E A OMISSÃO
O caso que citarei a seguir não tem a ver com homicídio, mas sim com omissão. Porém, serve para ilustrar com perfeição esse PONTO.
Em uma escola estadual na zona sul de São Paulo uma menina de 12 anos foi estuprada por três alunos menores dentro do banheiro da escola, por aproximadamente 50 minutos. Ela foi arrastada por um dos menores para dentro do banheiro masculino, enquanto os outros dois já a esperavam para estuprá-la. E eu me pergunto: Onde estavam os funcionários da escola?
Segundo diferentes fontes, a escola, ao ver a menina passando mal (?), não chamou a polícia e ainda soltou os menores responsáveis pelo estupro. É bom lembrar que o estupro ocorreu no horário normal de aulas, ou seja, todos estavam fora da sala. E onde estavam os inspetores de aluno?
Alguns funcionários, que não quiseram se identificar, disseram que a escola estadual sofre com sérios problemas de falta de funcionários e que é comum ver-se no horário de aulas jovens consumindo drogas livremente.
Dos três menores que participaram do estupro coletivo, um está foragido e os outros dois foram transferidos de escola (**). Transferir o problema, ao invés de cuidar dele, foi a solução encontrada pelo Secretário de Educação do Estado para “resolver” o problema.
Portanto, a omissão neste caso ocorre há muito tempo. Todos para manterem seus empregos aceitam situações lastimáveis, ao invés de agirem como na Teoria das Janelas Quebradas(*) citada no PONTO 01. A omissão torna-se conivência ou cumplicidade não só neste caso, mas também em qualquer outro, seja homicídio ou estupro. O problema é que as pessoas, de forma geral, raramente percebem o seu papel neste circuito e aceitam o que ocorre ao seu redor sob os mais diversos pretextos.
A Síndrome de Genevose (você poderá ler sobre ela na Internet) tem feito diversas vítimas, apesar dos serviços sigilosos de ligações à polícia com que contamos no Brasil. Há um descomprometimento com a vida alheia, como se ela não importasse. E nesta história da criminalidade a coisa funciona como naquele poema do John Donne, ou seja, não importa muito por quem os sinos dobram, no final das contas você será sempre afetado. E não adianta tentar se esconder num condomínio ou andar de carro blindado.
Com a omissão e o fato de “não estar nem aí para outro ser humano”, crimes são abafados por instituições e bairros, além da falta de confiança na polícia e na estrutura judicial. Alguém pode até denunciar um crime, e amanhã ver o algoz ser solto, e o denunciante ser alvo de um novo crime, sem que ninguém, nem mesmo os organismos policiais, façam a conexão. Este modo de atuar apenas torna a omissão e a conivência cada vez mais fortes e, claro, vidas humanas tornam-se obsoletas ou destroçadas.
PONTO 03: OS OLHOS ACOSTUMADOS
Os PONTOS 01 e 02 tendem a deixar os nossos olhos acostumados com a violência amplamente noticiada. Quando nosso olhar acostuma-se com a violência tendemos a banalizar a vida – tanto a nossa quanto a dos outros.
Há muitos anos um guarda que cuidava da rua onde eu morava quis mudar de cidade. Ele era ótimo e na época eu não entendia por qual razão queria sair de São Paulo. Quando perguntei a razão de sua repentina mudança ele me disse que não aguentava mais ver seus filhos presenciarem cadáveres antes de ir para a escola na comunidade onde moravam. E ele não queria isso para eles.
A convivência diária com cadáveres, afrontas entre policiais e traficantes e métodos duvidosos de investigação ocorre há muitos anos, porém só há pouco tempo a maioria de nós começou a entrar em contato com este tipo de cena.
Agora, imagine uma criança ou adolescente vendo e convivendo diariamente com este tipo de situação.
Li um post no Facebook de autoria de Antonio Engelke que comentou sobre o menor assassino do ciclista da Lagoa que é bastante elucidativo (os grifos são meus) quanto à questão dos Olhos Acostumados:
Antigamente, o bandido dizia “passa tudo!” e pronto: se a vítima não reagisse, perdia os pertences, mas não sofria violência. Hoje, o assaltante muitas vezes já chega dando soco, facada ou tiro, antes mesmo de anunciar o roubo. Crueldade pura, desprezo absoluto pela vida humana.
Há duas maneiras de compreender este fenômeno. A primeira é acreditar que, de uns 10 ou 15 anos para cá, assaltantes vêm deliberadamente escolhendo ser cruéis. Começaram a nascer gerações de miseráveis que não se contentam em roubar: precisam sadicamente ferir suas vítimas, mesmo que isso lhes seja prejudicial (se os jornais repercutem, a polícia vai atrás). Mas esta explicação esbarra num problema. Se há criminalidade em toda parte, por que tal fenômeno é exclusividade de certas metrópoles brasileiras? Você seria obrigado a concluir que, por uma infeliz e gigantesca coincidência, indivíduos que nasceram já propensos à crueldade, ou que escolheram depois pelo sadismo, calharam de se reunir em cidades como o Rio de Janeiro.
Se uma coincidência dessas, por absurda, não te parecer convincente, você irá procurar outra explicação. E ela começa exatamente no ponto onde a primeira termina. Deve haver alguma particularidade na periferia de metrópoles como o Rio de Janeiro, alguma coisa no ambiente em que esses meninos-que-viram-bandidos são criados, que cada vez mais os influencia no sentido de desprezarem a vida humana. A resposta é simples: na favela, a vida vale cada vez menos. O que você acha que acontece na cabeça de um menino que cresce vendo cotidianamente pessoas sendo mortas ou torturadas? Traficante matando traficante. Traficante matando morador. Polícia matando traficante. Polícia matando morador. Morador, revoltado em protesto, sendo morto pela polícia. Polícia torturando morador para saber de traficante. Traficante torturando morador para saber de polícia. Polícia extorquindo traficante. Todos os dias alguma viela suja de sangue, algum corpo estendido sem vida, algum buraco de bala de fuzil na parede.
Não, eu não estou “desresponsabilizando” o assassino do ciclista na Lagoa. O que estou dizendo é que não podemos tratar este episódio, e os tantos outros que vem sendo exaustivamente registrados, como se fossem apenas irrupções aleatórias de sadismo.”
Espero, sinceramente, que você consiga empatizar com esta situação. Este efeito é muito diferente do que vemos na TV ou em jogos de vídeo game, pois são reais, tem cheiro e cor. Na televisão, mesmo quando nos deparamos com crimes reais, sempre há um certo distanciamento do tipo “Não foi comigo, e nem com ninguém que conheço, e vou dormir em paz”.
E não é à toa que, quando alguém é vítima de um crime real, a primeira coisa que diz é: “Vejo isso na TV, mas nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo”.
Através de programas policiais na TV podemos ficar com medo, e acreditar que poderemos ser vítimas de uma marginal ao cruzarmos a esquina de casa. Isso se dá em função da repetição absurda existente neste tipo de programa. As cenas são tão exaustivamente passadas somadas à expressão dramática dos apresentadores que podemos acreditar que o mal prevalece ao bem, o que também não é verdade.
Raramente também alguém será induzido ao crime apenas por gostar de assistir filmes ou games de ação.Claro, que isso ocorrerá apenas àquele que já tem ideias formatadas à respeito, da mesma forma que alguém que gostei de vinhos poderá aprender mais sobre eles assistindo TV. Ou seja, a TV e os games podem influenciar comportamentos que já estejam instalados na pessoa, mas não tem o poder vivificante dos olhos acostumados a ver cenas reais e repetidas em seu cotidiano. Esta diferença é muito importante.
Todos nós, em menor ou menor grau, convivemos com os olhos acostumados. Acredito que todos lembramos quando um motociclista sofria um acidente de trânsito. Se antes este fato nos chocava, hoje um acidente com motociclista, mesmo que fatal, representa para a grande maioria das pessoas apenas uma interrupção ou estorvo no trânsito. Ou seja, nossos olhos se acostumaram com acidentes deste tipo, assim como com outras coisas com as quais jamais deveríamos nos acostumar ou achar normal.
Olhos acostumados são extremamente perigosos, pois nos desumanizam, transformando seres humanos em coisas ou objetos descartáveis. Não é à toa que matar por matar é tão trivial para alguns tipos de criminosos.
Como mudar estes olhos acostumados? Mudando o olhar, e como se faz isso?
Através de ações educativas que mostrem às crianças e adolescentes outros mundos. Há anos escrevo que ficar no mundinho fechado é perigoso, justamente por restringir o olhar e, o pior, se acostumar a ele, e achá-lo normal. Se isso não acontecer, crianças e adolescentes elegerão traficantes e bandidos como heróis, e desta forma prejudicarão toda a sociedade. Se antes, como escrevi, não tínhamos acesso a esta triste realidade hoje sabemos que periferias, em sua grande maioria, enfrentam problemas de violência muito sérios há muito tempo. Como estes problemas não afetavam a sociedade como um todo, deixávamos eles na periferia, longe de nós, e ninguém parecia muito se importar com eles. Hoje nos afetam e se espalham tal como um câncer. Mata-se por matar, e pouca gente quer enxergar o que acontece (de novo um problema no olhar).
E este olhar começa por ler, por exemplo, um texto mais longo como este, e que foge aos textos curtinhos que vemos na Internet. O assunto que abordei aqui ainda foi tecido com poucas palavras, acredite!
Agora, se além de ler, você considera importante o assunto dos “Olhos Acostumados”, por favor, o compartilhe. Quem sabe assim, através da união de uma nova percepção (um novo olhar) possamos, através da ação, encontrar novas alternativas.
De nada adianta reclamar da violência atual se nada fazemos.
(*) Teoria das Janelas Quebradas: https://jus.com.br/artigos/36275/teoria-das-janelas-quebradas-na-criminologia
(**) Após o término deste texto a imprensa noticiou que os três menores envolvidos no estupro foram encaminhados à Fundação Casa.
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